quarta-feira, 30 de junho de 2010

Só procurar culpados não resolve o problema

Para resolver problemas de queimadas urbanas, professora diz que não adianta procurar por culpados

Na foto está Carmen e seu filho de 2 anos, Miguel.

É com imenso orgulho que o blog do Jornal Adão Lamota entrevista Carmen Figueiredo, professora e autora do livro “Cadê a Vida que Estava Aqui? O Fogo Queimou!”. O livro foi produzido por alunos de escolas públicas do estado de Roraima, e organizado por ela.

O fogo também é um problema aqui em Rondônia, por isso entramos em contato com Carmen por e-mail, e desde o início ela pareceu interessada em ajudar.

Adão Lamota - No livro “Cadê a vida que estava aqui? O fogo queimou” você não fala de culpados, mas fala de quanto o hábito de praticar queimadas pode ser prejudicial. Isso faz pensarmos que é melhor fazer algo para ajudar do que simplesmente culparmos alguém. Você acha que procurar os culpados é perda de tempo?
Carmen Figueiredo: Eu acredito que aqueles que fazem o uso do fogo de forma irresponsável e ilegal devem ser punidos.Porem, só procurar por culpados não resolve o problema. Deve-se investir na educação e em alternativas viáveis para substituir o uso do fogo. Seja no uso do fogo na preparação da roça e pasto, como também no uso do fogo para queima de lixo domestico. Não é possível cobrar sem discutir alternativas. Se uma pessoa que mora na cidade fala: então está bem, eu não vou queimar meu lixo. Vou fazer o que com ele? A prefeitura faz a coleta do lixo? Desta forma, às vezes os verdadeiros culpados não são aqueles que usam indevidamente o fogo, mas aqueles que deveriam estar promovendo ações que resultariam na não utilização do fogo. Por outro lado, não se pode ficar de braços cruzados esperando que os outros façam algo. A iniciativa tem que ser de cada pessoa. Cada um tem que assumir sua responsabilidade e buscar seus direitos e deveres.

Adão Lamota – O livro tem redações de alunos que são filhos de agricultores e índios, os principais prejudicados pelo incêndio, o que você observou nessas crianças quando elas passaram essa história para o papel?
Carmen Figueiredo:
Percebi que elas estavam com toda essa vivência “engasgada”, pois na oportunidade do incêndio todos foram ouvidos, menos as crianças e estudantes. È como se somente os adultos tivessem capacidade de análise e argumentação. Isso é mentira.As crianças mostraram, um ano mais tarde, que sua vivência e perspectiva sobre o ocorrido era riquíssima e que elas deveriam ter sido incluídas, de alguma forma na discussão. Como viver uma situação tão grave, ver tudo que elas viram e serem ignoradas? Na ocasião do incêndio não houve iniciativas voltadas para ajudar essas crianças/estudantes a processar essa experiência e ouvir sua valiosa opinião.

Adão Lamota – Você concorda que o melhor modo de acabar com o hábito das queimadas rurais ou urbanas é através da educação (tendo em vista as crianças)? Você acredita em reeducação (aqui relacionada aos mais velhos que praticam o hábito)?
Carmen Figueiredo:
Acredito que a educação é a chave para as mudanças de comportamento necessárias com relação ao uso dos recursos naturais em geral. Antigamente existia uma política de incentivo ao desmatamento na Amazônia, e conseqüentemente do uso do fogo que se segue a ele. As políticas vêm sendo modificadas no sentido de se adequarem a nova realidade, porém as alternativas e incentivos (técnicos e financeiros) para efetivar essas mudanças não vêm sendo apresentadas.As mudanças de comportamento, sem duvida, virão com essa geração de crianças e estudantes que estão sendo educadas hoje. Quanto aos adultos, sem o devido apoio técnico e financeiro para incentivar as mudanças, pouco se alcançará.Hoje existe mais cobrança e pouca educação.Voltamos à primeira pergunta: será que somente cobrar e buscar culpados resolve? Ou isso simplesmente serve para se fingir que se está fazendo algo de fato?

Adão Lamota – Na edição do Jornal Adão Lamota de abril desse ano, seu livro serviu de inspiração para uma pequena pesquisa de campo, foram 26 entrevistados ao todo, e todos afirmaram saber dos malefícios das queimadas. Em sua opinião o que falta para acabar de vez com esse hábito?
Carmen Figueiredo:
O uso do fogo na Amazônia envolve situações distintas. Com relação à queima de lixo domestico, seja na zona urbana ou rural, em primeiro lugar é necessário disponibilizar a coleta de lixo e garantir o destino correto para o mesmo. Tendo isso garantido, é fundamental o processo educativo para assegurar que as pessoas vão deixar de queimar e usar o sistema de coleta de lixo. No caso do uso do fogo para a abertura e manejo de áreas para roça e pasto, é fundamental que se disponibilizem alternativas técnicas financeiramente viáveis para os produtores, sejam eles pequenos, médios ou grandes. Se no passado havia incentivos fiscais para desmatar na Amazônia, porque hoje não existem, na mesma proporção, incentivos fiscais para manter a floresta em pé? Se o governo (federal, estadual e municipal) acredita que a floresta em pé tem valor, então porque não de pagar por ela?Ao final, o uso do fogo pode prejudicar a saúde de muita gente. No período de queimadas existe um aumento significativo de casos de doenças respiratórias que é agravado pela fumaça. Dessa forma, o problema com o uso indevido do fogo é de todos, de quem usa e de quem não usa. Pois ao final, todos podem ser prejudicados.

Adão Lamota – Enquanto esteve em Roraima você conheceu os índios Yanomami, o que eles relataram sobre o acidente?
Carmen Figueiredo:
Para os Yanomami era como se o mundo fosse acabar. Em sua mitologia, perder completamente a visibilidade do céu significa um corte no diálogo com os espíritos. Por isso eles acharam que o mundo estava prestes a acabar.Até o incêndio de Roraima, pesquisadores diziam que era praticamente impossível um incêndio de copa na floresta por conta de sua umidade. Roraima mostrou o contrario. Até as margens dos rios foram destruídas. Um ano depois quando passei pelo rio Catrimani, a mata ainda não estava restituída.Outro problema sério que os Yanomami enfrentaram na ocasião do incêndio foi à diminuição drástica da caça, uma de suas fontes de alimento. Muitos animais foram queimados e outros tantos fugiram. Um ano depois ainda existia um grande desequilíbrio.

Adão Lamota – Seu livro foi lançado em 2000, e ainda hoje ele é usado para conscientizar pessoas. Como você se sente?
Carmen Figueiredo:
Não é possível descrever a alegria. Esse livro é um instrumento para dar voz àquelas crianças/estudantes e alertar as outras. Saber que esse elo entre as crianças e estudantes de Roraima e os demais da Amazônia está ativo, é motivo de alegria e de esperança de que essa geração vai ser capaz de enfrentar os problemas e fazer as mudanças tão necessárias para a sobrevivência de todos.

Adão Lamota– Além de escritora, você é professora. Na sua opinião, qual é o papel da educação ambiental na escola?
Carmen Figueiredo:
Em primeiro lugar preciso dizer que acredito na educação ambiental como meta, e não como disciplina. A meta é incluir as temáticas socioambientais atuais em todas as disciplinas de forma a garantir sua inserção plena, como é o tema. Como se poderia colocar um tema tão amplo e estratégico dentro de uma caixinha, de uma disciplina? Se meio ambiente é tudo e todos, então essa temática deve ser inserida em todas as disciplinas para abordar o Maximo de perspectivas possíveis.Outro ponto é a inserção da temática socioambiental a partir da realidade local. De que adianta ter uma disciplina de educação ambiental em uma escola de Ji-Paraná, por exemplo, e as cartilhas de alfabetização de livros didáticos apresentarem uma realidade tão distante daqueles estudantes. Ensina-se usando elefantes e girafas, mas esses estudantes vão lidar com açaí e pupunha. Nada contra os animais africanos, mas acho que o governo deveria garantir nos materiais didáticos informações sobre nossa fauna, flora e diferentes culturas antes de se começar por referências de fora. Nessa linha de trabalho, eu desenvolvo uma ação de capacitação com professores de 1ª a 4ª série do ensino fundamental na Amazônia que visa à elaboração, pelos próprios professores, de material interdisciplinar com temas socioambientais. Os temas são definidos pelos próprios professores a partir de sua realidade de prioridade. Os resultados tem sido ótimos e os professores relatam que o processo de aprendizagem melhora quando eles utilizam temas que fazem parte da realidade do aluno.

Adão Lamota – O que fez você se interessar por meio ambiente?
Carmen Figueiredo:
Na verdade, eu sou indigenista e trabalho com essas populações há 20 anos. Conviver com esses povos que dependem da floresta para garantir sua sobrevivência física e cultural me fez aprender como o meio ambiente é parte de nossa vida. Antes disso, eu também acreditava que meio ambiente era bicho e mato. Que o ser humano era superior a isso. Depois percebi que o ser humano não vive sem o meio ambiente. Não se vive sem ar puro, água e comida. Por isso, destruir os rios e a mata com tudo que nela vive vai prejudicar a nós mesmos. Achar também que a Amazônia é grande, tem muita água e floresta e que não vai acabar e que se pode tirar tudo é ignorância. Cada um desmata um pouco e acha que aquele pouco não vai fazer falta. Todo dia eu jogo uma garrafa de plástico ou outro tipo de lixo no rio. Imagine milhares de pessoas fazendo a mesma coisa. É preciso pensar além de nossos atos e necessidades individuais. O problema, por exemplo, não é desmatar para plantar comida ou criar gado, o problema é como se faz isso. É preciso consciência no uso correto dos recursos naturais para que não faltem mais tarde. Voltamos à necessidade de investimento na educação e tecnologia acessível para se garantir o uso sustentável dos recursos naturais de forma a garantir a qualidade de vida dessa e das futuras gerações.

Cadê a vida que estava aqui? O fogo Queimou!

sábado, 12 de junho de 2010

Coleta seletiva: o descarte correto que ninguém faz


Nos lugares que freqüentamos, lá estão elas: latas coloridas que nos incentivam a separar vidro, plástico, metal e papel. As boas intenções dos que descartam o lixo no seu respectivo cesto não são valorizadas. “A coleta seletiva não existe. Só quando há interesse particular” diz a coordenadora do curso de Biologia do CEULJI/ULBRA. “Aqui mesmo em Ji-Paraná não tem política pública sobre isso”.


Quando a coleta seletiva é realmente implantada em uma cidade há geração de renda, mas para que isso possa iniciar, é preciso investimento. “A prefeitura e o governo, por enquanto, não demonstraram interesse” diz Cleide. Segundo a coordenadora também haveriam benefícios como menos impacto ambiental e se resolveria parte dos problemas sociais com a renda gerada.


Mesmo com a falta de estímulo de terceiros, existem alternativas para os interessados em dar um fim consciente em seu lixo. “Quem quiser fazer sua parte tem que levar o lixo separado para empresas particulares” conta Cleide. “Essas empresas de Ji-Paraná estão comprando lixo de outros municípios porque quase não há procura de interessados”.

14 motivos para separar seu lixo

Existe, mas ninguém pratica


No ensino médio, todos ouvem falar dos três erres da educação ambiental – reduzir, reutilizar e reciclar. Vemos o símbolo com a letra dentro de três flechas em embalagens, cartazes, outdoors, camisas e outros objetos. Mesmo estando estampado em todo lado, os três erres parecem não fazer efeito. “Agora existe até cinco erres que focam o reaproveitamento do lixo, mas isso não funciona”, conta Cleide Resende, coordenadora do curso de Biologia do CEULJI/ULBRA.


Esses “erres” servem para facilitar a conscientização das pessoas para o controle da produção de lixo, algo que tem atingido altos picos de desperdício, poluição e lixo, muito lixo. Uma cidade como São Paulo produz por dia lixo equivalente a quatro edifícios. Contrastando com essa realidade, o “r” do reciclar se sobressai, ao menos na teoria. “Existe muito daquela história de transformar uma garrafa PET em bolsa, porém isso é uma forma de retardar o descarte de lixo”, explica a coordenadora.


Cleide acha que entre os erres, o único que as pessoas deveriam adotar é o reduzir, pois o reciclar não existe, “A reciclagem é um processo caro”. Mas ainda assim, reduzir o lixo é um desafio, “Reduzir lixo interfere na cultura das pessoas. Ninguém quer abrir a mão do prático, ninguém quer abandonar velhos hábitos”.

Compostagem, uma saída para os preocupados com lixo

Uma riqueza passa por nossas mãos enquanto não percebemos. Cortamos frutas, legumes e verduras e nos livramos das cascas, e nem sabemos que elas podem virar adubo de jardim. Em período de agrotóxicos e transgênicos, muitas pessoas estão optando por ter uma horta em casa, a procura por adubo aumentou. “A qualidade desse adubo é melhor do que o adubo químico, porque não degrada o meio ambiente”, explica o acadêmico de Biologia do CEULJI/ULBRA, Roberto Ribeiro Rodrigues.

O nome da prática que transforma materiais orgânicos em adubo chama-se compostagem, esse processo é uma alternativa para transformar restos que achamos não ter utilidade. “Essa prática é uma saída para reduzir pelo menos o lixo orgânico” acrescenta o estudante.

Ainda há alternativa para os preocupados com o meio ambiente que moram em apartamentos. “A pessoa pode colocar o lixo orgânico em um recipiente de plástico, lá os organismos anaeróbicos irão decompor esses restos, em um período de seis meses haverá uma massa preta, esse é o adubo”.